Como Criar um Livro?

Tenho uma História para Contar?

Antes de pensar em criar o livro “A Hora da Estrela”, a escritora Clarice Lispector deve ter se perguntado: “Será que tenho uma história para contar?” A escrita de um livro só se justifica se o conteúdo apresentar um registro interessante, uma nova abordagem sobre um assunto já conhecido ou narra a vida de Macabéa, datilógrafa que migra de Alagoas para o Rio de Janeiro. Por isso, se a resposta para a pergunta acima for um “sim”, sigamos a frente.

É importante destacar que esse registro, fato ou história precisa ser capaz de chamar a atenção do leitor. Então, sabe aquele “causo” que seu tio conta todos os anos durante a ceia de Natal, e que absolutamente ninguém, além dele, acha graça? Pois é, nossas histórias de vida ou que inventamos no nosso íntimo podem ser desinteressantes para a maioria das pessoas. Mas, como saber disso? Faça como seu tio, experimente narrar um trecho para amigos ou parentes e fique de olho na reação deles. Entretanto, não abuse da paciência deles.

Fale do meu tempo, do Seu Lugar

É possível que você tenha torcido o nariz quando o professor pediu a leitura de um livro de William Shakespeare. Mas por que ler Hamlet, Romeu e Julieta ou Otelo é tão importante, ainda nos dias atuais? Uma das grandes características de Shakespeare era abordar temáticas humanas, o que ainda é capaz de nos fornecer um panorama da sociedade da época, da política e da cultura daquele momento histórico.

Ter um olhar ou uma compreensão do lugar e do tempo em que se está inserido é uma característica bastante positiva para um escritor. Sem dúvida, esse entendimento tem influência direta na criação de um livro, mais precisamente, dentro do desenvolvimento e na complexidade da narrativa.

Você pode ter dúvidas sobre abordar algum assunto da sua cidade, da sua família ou da esquina da sua rua. Porém, pode confiar numa máxima atribuía ao escritor russo Leon Tolstói, que dizia: “Fale da sua aldeia, e estará falando do mundo.”.

Por onde Começo?

Alguns autores começam a redigir o texto de forma linear, ou seja, partem de um ponto inicial, caminhando com a narrativa até o desfecho. Eles podem ainda realizar a escrita sem saber ou determinar exatamente por onde seus personagens vão caminhar. São profissionais que levam a escrita de uma forma mais livre, ainda que não sem parâmetros. Não se esqueça: ter um planejamento é fundamental.

 O escritor brasileiro Paulo Coelho pode se encaixado nesse grupo de autores quando diz que escreve “livro que quer ser escrito. Atrás da primeira frase tem uma corda que leva você até a última.”. Concorda?

Por outro lado, há aqueles que começam do fim. Quero dizer, eles escrevem o fim da história e, a partir dali, desenvolvem o restante da narrativa, tendo já o desfecho como base. Há ainda aqueles que escrevem uma versão reduzida da história, uma espécie de esquete, e aos poucos vão dando mais volume a cada parte da narrativa.

O interessante é ir testando essas fórmulas, e descobrir aquela que mais se encaixa no seu modo de trabalho.

É Preciso ter um Método?

Existe um sem número de livros, aulas on-line e oficinas disponíveis na internet sobre métodos de escrita. Numa rápida pesquisa, é possível encontra os métodos clássicos, como o Aristotélico, que divide o texto em três atos. Por sua vez, muitos escritores contemporâneos estão nas redes sociais compartilhando conteúdo sobre o processo de escrita, apontando questões de método.

As oficinas presenciais de escrita criativa são uma boa pedida para conhecer essas ferramentas e trocar experiências com outros escritores sobre o tema. Após a pandemia de Covid-19, se tiver a oportunidade, matricule-se.

O fato é que mesmo com um método muito bem desenvolvido, para escrever um livro é preciso gastar horas, dias ou alguns anos sentado frente ao computador. Traduzindo: Mesmo com o método mais “avançado” de escrita, nenhum método de escrita vai livrar o escritor do ato de escrever.

Quanto Escrever?

O “Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupéry, apresenta edições com apenas 96 páginas. Apesar disso, é uma das obras mais traduzidas da literatura mundial. Por sua vez, “a obra Gerra e Paz”, de Leon Tolstói, pode ser lida em edições com mais de 1600 páginas, sendo que muitas de suas edições são divididas em alguns volumes.

A moral da história é que o livro precisa ter a quantidade de páginas que permita com que a narrativa esteja desenvolvida em toda sua integridade. Então, dependendo do gênero literário, tudo bem se o livro tiver 60 páginas. Se for um romance, tudo bem ter 300 páginas. O que vai dizer se isso é bom ou ruim é como o texto está desenvolvido em cada folha e, como ele vai ser compreendido na sua totalidade.

Como serão meus Personagens?

Desenvolver personagens ricos, complexos e que despertem a atenção do público é um belo desafio. E, não só para escritores de literatura. O cinema, o teatro e a teledramaturgia também apresentam dificuldades nesse mesmo sentido para seus roteiristas e criadores.

Não crie personagens perfeitos, sem angústias, medos ou defeitos. A questão da verossimilhança é bastante essencial para que o leitor se relacione bem e sem conflitos com a obra. Não tenha dúvidas de que ele irá cobrar personagens coerentes, complexos e capazes de, já na primeira vista, despertar a vontade de “devorar” mais e mais páginas.

Há ainda a função de cada um deles na trama. Por isso, além de um protagonista, sua narrativa vai pedir a presença de um co-protagonista, um antagonista, coadjuvantes, figurantes etc. É possível escrever um livro com apenas um personagem? Sem dúvidas. Mas isso depende do gênero literário. Para um conto, essa ideia é praticável. Mas, em um romance, totalmente inviável.

Por fim, é imprescindível que você busque algum conhecimento sobre escrever livros e a respeito do assunto do qual deseja se debruçar. Quanto mais você se sentir seguro sobre essas nuances, maior é a chance de escrever uma boa história.